Mandacaru

A Grande Seca que atingiu o Nordeste brasileiro nos anos de 1877 a 1879 foi a catástrofe mais devastadora da história do Brasil. Ela foi responsável pela morte de cerca 500 mil pessoas, de um total de 800 mil que viviam na região, outras 120 mil migraram para Amazônia, enquanto 68 mil imigraram para outras para outras regiões. Severino de Maria de Zacarias, apaixonado por sua terra, por sua casa de taipa e palha de carnaúba, dedicado à sua mulher Joana, aos seus dois filhos, Cíço e Romão e aos seus animais, uma cadela com nome de Baleia, um jumento batizado de Professor, dois bodes, cinco cabras e três cabritos esmilinguidos, estava convicto em seu coração que resistiria a calamidade e de modo algum deixaria seu precioso pedaço de chão. No final do ano de 1878, Severino, amargando a dor de ver seus amigos, vizinhos e parentes sucumbir à fome que matava desde o mais antigo dos homens até crianças não nascidas. Sabendo que os seus dois bodes, cinco cabras e três cabritos já tinham servido de acalento para a terrível dor que roía o estômago de sua família e que não tinha coragem de cozinhar sua companheira Baleia e nem seu sofrido amigo Professor, resolveu procurar qualquer lugar que lhes permitissem sobreviver. Após dias de sol, poeira e sofrimento, Severino avistou o verde ao lado de um enorme espelho que refletia o céu, os seus olhos regaram os secos ossos da face e Severino ajoelhou-se à beira do Velho Chico, um rio que nascia nos confins da terra e desembocava nas salgadas águas do mar. Diante daquela imensidão de riqueza, algo como nunca tinha visto, ele acreditou que se levasse um pouco daquela água para sua casa, não haveria lugar melhor no mundo para se morar. E a grande missão de Severino é fazer uma rede hidráulica que ligue sua casa ao rio ligar bombas para bombear água até sua casa.